A diocese e o bispo da Beira
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Igreja em Moçambique – em torno de textos de José Soares Martins
Augusto Nascimento (CH-ULisboa)
Acerca das relações entre a Igreja e o colonialismo vale a pena considerar quer a pluralidade da Igreja, quer a finitude dos propósitos políticos do colonialismo. Tal é um primeiro passo para se ensaiar avaliar outros propósitos, que não os corriqueiramente resumidos na ideia simplista da cumplicidade entre a instituição eclesiástica e o regime colonial. Nesta comunicação, para além de ponderações sumárias sobre as condições materiais em que se construiu a estrutura missionária na diocese da Beira, em meados de Novecentos, com base em textos de José Soares Martins, intenta-se uma apresentação exploratória da formação de um missionário. Ele transformou a sua consciência ao longo dos anos em que permaneceu naquela diocese. José Soares Martins modificou-se desde o momento do espanto com as “novidades” da terra e das gentes colonizadas até ao das interrogações acerca quer dos desígnios da missionação e da Igreja, quer, à luz de uma consciência politizada, acerca de Moçambique e do seu povo. Na visão de José Soares Martins – certamente, na esteira da de seu tio, D. Sebastião Soares de Resende, que o encarregou do Diário de Moçambique, como ele se encarregaria depois do jornal Voz Africana –, a “Palavra” era central na ação da Igreja. A demissão desse eixo de ação missionária representava uma quebra de compromisso da Igreja para com a sua missão, para com a população moçambicana e para com a humanidade. Para além de serem testemunho valioso de uma experiência pessoal, os seus textos, rascunhados em cima dos acontecimentos, ainda hoje se afiguram um guião metodológico a ter em conta para a interpretação da história da Igreja na beira no terceiro quartel de Novecentos
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“Ver, julgar e agir”? Uma visita pastoral do 1.º bispo da Beira descrita pelo seu secretário pessoal, José Soares Martins
Paulo Ribeiro Gonçalves (GT-AM, CEHR-UCP, Grupo de Trabalho Arquivos e Memória, Centro de Estudos de História Religiosa - Universidade Católica Portuguesa)
Nesta comunicação, iremos apresentar um documento inédito (“Descrição de uma visita pastoral”), da autoria de José Soares Martins, sobrinho do 1.º bispo da Beira, D. Sebastião Soares de Resende. Depois de ter sido ordenado padre na diocese da Porto, foi colaborador de seu tio na diocese da Beira, em Moçambique. Nela desenvolveu obra notável como eclesiástico, nomeadamente como secretário pessoal do bispo da diocese, como padre da paróquia do Sagrado Coração de Jesus de Macúti, na cidade da Beira, e, em especial, como a principal figura da administração e da redacção do Diário de Moçambique, diário católico criado por D. Sebastião Soares de Resende e que sofreu grandes pressões das autoridades coloniais da época. A nossa comunicação irá apresentar a figura de José Soares Martins, que, a partir do início dos anos 70 do século XX, elaborou uma obra de investigação histórica sobre as questões do colonialismo em Moçambique, sob o pseudónimo de José Capela, e ao mesmo tempo iremos enquadrar a sua descrição de uma visita pastoral de seu tio, o 1.º bispo da Beira, D. Sebastião Soares de Resende, com as visões de outras testemunhas acerca dos problemas de uma sociedade marcada pela situação de domínio colonial, criadora de desigualdades e de um sistema de exploração que não respeitava a dignidade humana.
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O bispo D. Sebastião Soares de Resende e o impacto da sua ação na política colonial e na diplomacia do Estado Novo (1943-1967)
Luís Miguel Carvalho (CITCEM)
Esta comunicação será centrada na figura de D. Sebastião Soares de Resende e no seu episcopado. Num primeiro momento, procuraremos conhecer o seu perfil intelectual começando por analisar a correspondência presente no seu espólio relativa ao tempo de estudante e sacerdote, tanto em Itália como no Porto. Destacaremos a paixão pelo jornalismo e pela filosofia, analisando as suas publicações nos jornais católicos e posteriormente, nas suas obras, em especial, os seus escritos sobre os teólogos do Concílio de Trento. De seguida, daremos atenção aos seus diários, pastorais e intervenções no jornal Diário de Moçambique, de modo a poder compreender a forma como via o mundo do seu tempo. Num segundo momento, tentaremos compreender o seu pensamento religioso e espiritual através de outro conjunto de fontes presentes no espólio: homílias, sermões, pastorais, cadernos de exercícios e apontamentos espirituais. Estas fontes permitem-nos conhecer a sua mentalidade religiosa e a sua vida interior. Daremos também relevância às intervenções no II Concílio Vaticano, procurando descortinar de que forma o seu pensamento religioso e a sua experiência de missionário enriqueceram os temas debatidos no Concílio. Como último ponto, veremos o seu episcopado numa perspetiva política. O objetivo é dar a conhecer os momentos críticos e os conflitos que travou contra o regime. Concentraremos a nossa atenção num conjunto de pontos-chave: as críticas feitas ao colonialismo nas suas pastorais; o conflito que teve com o ministro das Colónias, presente na correspondência; a solidariedade com o bispo do Porto; as polémicas em torno das suas visitas ao estrangeiro e as suas denúncias sobre a realidade colonial portuguesa, que ressoaram na imprensa internacional. Daremos, ainda, destaque à forma como Salazar e o regime boicotaram a sua ascensão eclesiástica a cardeal e atacaram de forma subtil o bispo da Beira e a respetiva diocese. Por último, analisaremos o seu distanciamento do regime, a opção tomada em favor da independência de Moçambique, as polémicas intervenções no Concílio Vaticano II e o impacto das suas ações na política diplomática do Estado Novo. Tanto a documentação presente no seu espólio, como a existente nos Arquivos Oliveira Salazar e no Instituto Diplomático foram fundamentais para a pesquisa destas temáticas.