Religião e colonialismo português I

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Religião, ideologia e cultura: a “mística imperial” e a busca pela legitimação religiosa e moral do colonialismo português através dos Cadernos Coloniais (1930-1940)

Luiz Henrique Assis de Barros (Instituto Federal de Pernambuco)

Esta proposta de comunicação visa examinar, em exemplares dos Cadernos Coloniais da Editora Cosmos (publicados entre 1920 e 1961), o discurso com o qual religião, ideologia e cultura foram instrumentalizadas pelo Estado Novo no sentido de promover uma retórica de legitimação do colonialismo português e a defesa de sua alegada excepcionalidade, na chamada “mística imperial”. Aqui, cultura e religião são entendidas como instrumentos com as quais ideologias e posicionamentos são veiculados e instrumentalizados a fim de justificar dominação de um povo face a outro. Os Cadernos Coloniais surgem para apresentar os espaços coloniais e povos originais à população metropolitana, retratando o colonizado como exótico e bárbaro, despertando curiosidade e principalmente levantando uma necessidade de levar àqueles espaços distantes missões de catequese, civilizadoras e jornadas exploratórias das riquezas naturais, justificativas da dominação colonial. Nesta análise, abordaremos as estratégias utilizadas entre as décadas de 1930 e 1940 para construir retoricamente e apresentar um Portugal colonialista movido pelo senso de dever e moral religiosa, tendo a atividade colonial “acima de tudo, uma obrigação do Estado português, que tem como vocação tocar a missão de cristianizar e civilizar as raças atrasadas” (Azevedo 1939, 15).

Referências

Azevedo, Fernando Alves de. 1939. Mística Imperial. Cadernos coloniais, n.º 17. Lisboa: Cosmos.

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A influência da Igreja Católica no processo de ocupação e colonização dos reinos ovimbundu do Planalto Central de Angola

Frederico Capuca (PUC-RIO – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

Esta comunicação tem como fulcro a abordagem interpretativa sobre o papel desempenhado pela Igreja Católica na conquista e colonização dos ovimbundu durante as campanhas militares portuguesas no Planalto Central de Angola, nos séculos XIX e XX. Com base em pesquisas de Pelissier (1986), Neto (2012), Costa (2014), Arnot (1969) e a tradição oral local, a comunicação estará atrelada às trajetórias da Congregação do Espírito Santo (CES) na região; a fundação das missões como estratégias de aproximação, de protagonismo e de soberania portuguesa; as alianças entre as missões e a Coroa para o derrube das soberanias locais e, por último, a participação da Igreja no processo colonização das populações supramencionadas. Pelissier (1986) defende que a vitória dos lusitanos sobre os reinos ovimbundu foi influenciada pelos missionários católicos, que inclusive alimentavam as forças militares portuguesas. Refere ainda que um dos principais missionários que contribuiu para o efeito foi o padre Joseph Goep.

Referências

Costa, R. J. 2014. “Colonialismo e gênero entre os Ovimbundu: relações de poder no Bailundo (1880-1930).” Tese de doutorado, Universidade de Brasília.

Neto, Maria da Conceição. 2012. “In Town and Out of Town: A Social History of Huambo (Angola), 1902‐1961.” Tese de doutorado, SOAS, Universidade de Londres.

Pelissier, René. 1986. História das Campanhas de Angola Resistências e Revoltas 1845-1941. Vol. 2. Lisboa: Editorial Estampa.

Arnot, Frederick Stanley. 1969. Garenganze or Seven Years Pionear Mission Work in Central Africa. Nova edição. London: Taylor & Francis.

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As vivências religiosas no colonato autónomo de São Jorge do Catofe – Angola (1950-1975)

Hélio Nuno Soares (CEHR-UCP)

No final da década de 40 do séc. XX, desenvolveu-se, junto às margens do rio Catofe, município da Quibala, no interior de Angola, o colonato autónomo de São Jorge do Catofe. Esta designação advém do facto de a maioria dos colonos ser originária da ilha de São Jorge. Os colonos solicitaram ao governo provincial autorização para explorarem as terras. A partir do modelo cooperativo existente na ilha de S. Jorge para a recolha, transformação e comercialização de queijo, aplicaram-no e desenvolveram-no na comunidade em expansão, que recebeu, gradualmente, novas famílias. Os colonos não limitaram a sua ação somente às questões agrícolas e económicas, levaram consigo a cultura açoriana, que é inseparável da dimensão religiosa. Nesta comunicação, pretendemos analisar o processo de transferência e vivência das manifestações religiosas católicas, de piedade popular, que esta comunidade levou dos Açores e reproduziu no interior de Angola. Em que a Igreja Católica, com os seus enquadramentos, foi um factor de agregação da comunidade e de manutenção da cultura açoriana, proporcionando vivências e oportunidades de sociabilidade em diferentes períodos do ano. Em que procuraremos perceber a consciência que a comunidade possuía sobre os desafios sociais e políticos nos quais se jogava o seu destino. As fontes que servem de base a este estudo são, sobretudo, os depoimentos escritos dos retornados, fotografias e testemunhos orais.