Resistências religiosas ao colonialismo
Moderação: Paulo Fontes (CEHR-UCP)
Sala:
Seeds of the Revolution: the Algerian Muslim Scholars Association and the resistance to colonial indoctrination
Mourad Aty (Guelma University; CEAUP)
The Algerian Muslim Scholars Association “Ulama Association” played a major role in laying the ground for an Algerian nationalism which would lead to the 1954 Revolution against the French colonization. Prominent figures of the national movement graduated from the association’s schools which were scattered throughout the country and were financed by charitable donations. Created in 1931, the Ulama’s motto was “Islam is our religion, Algeria is our homeland, Arabic is our language”. Its main focus was preserving the Algerian identity and its religious, historical and civilizational values within the Arab-Islamic frame. Based on such a legacy, the association opposed all the French assimilation plans and considered those Algerians who were naturalized as non-Muslims. This paper traces back the role played by the Ulama in preserving the Algerian Muslim identity against the colonial legislators who aimed at whipping out the existence of the whole population’s history. The paper delves deep within the context to provide an understanding of the association’s approach which led to its successful mission amidst a very hostile colonial environment, mainly after the 1938 Chautemps decree which banned the use of Arabic.
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Resistência católica ao colonialismo português. O Estado Novo e as intervenções de Paulo VI
Edgar Silva (CEHR-UCP)
Sobre a resistência anticolonial em nome de imperativos religiosos e para a compreensão do processo de gestação, em Portugal, da consciência católica e das correspondentes críticas ao colonialismo português, importará reunir contributos da investigação historiográfica relativos aos impactos do magistério de Paulo VI na inequívoca condenação do colonialismo, para a mudança da consciência católica em Portugal quanto à guerra colonial e na recusa da situação colonial. Também será relevante interpretar como o Estado português reagiu a Paulo VI. Se havia um desacerto em relação ao discurso pastoral dos bispos em Portugal, na linguagem do nacionalismo, na conceção missionária, nos posicionamentos sobre a guerra colonial – que se afiguravam incongruentes face às novas orientações do magistério, que provocavam mal estar ao nível das organizações católicas mais familiarizadas com dinâmicas internacionais –, temos por objetivo entender como, para sectores do catolicismo social que eram confrontados pelo regime, no fogo cruzado dos conflitos e das contradições entre diretrizes, os posicionamentos da Igreja de Roma, assim como os documentos pontifícios assumiram uma função catalisadora de mudança de consciência eclesial, com implicações sociais e políticas face ao Estado Novo português.
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“Por Deus e pelo Império”: os espiritanos perante os desafios do catolicismo conciliar e a persistência do colonialismo tardio português em Angola
Hugo Gonçalves Dores (Centro de História da Sociedade e da Cultura, Universidade de Coimbra)
Em 1966, a Congregação do Espírito Santo celebrava o centenário da sua chegada a Angola. Na senda comemorativista do Estado Novo, os espiritanos enalteciam os feitos do seu principal campo missionário em Portugal, num momento de profunda transformação do mundo católico, com os primeiros impactos do Concílio Vaticano II, e do mundo imperial, com o agravamento e alargamento dos conflitos anticoloniais. Os “ventos de mudança” entravam pelo sistema colonial e pelas estruturas missionárias que resistiam aos desafios de uma África em rápida descolonização. Uma nova geração de espiritanos, imbuídos do espírito conciliar, pugnavam por uma mudança, abrindo frechas no seio da congregação, voz e mão da acção evangelizadora e civilizadora do colonialismo português. Os receios de um futuro pós-colonial – agudizado pelas vicissitudes que a Igreja Católica enfrentava em vários contextos pós-independência – sustentavam a resistência dentro da congregação, que procurava salvaguardar a sua permanência no território. Alguns acreditavam que sem renovação tal não seria possível. Esta comunicação aborda as dissensões dentro da congregação espiritana, explorando a complexa interação entre os meios católicos europeus e africanos, as autoridades religiosas católicas e a intricada relação Estado-Igreja no ocaso do regime e do império.